Notas do deserto /Notes from the desert #2

(scroll down for English and photos by Katia and Andreas)


Cheguei aqui há quatro semanas atrás. Passadas a euforia e o deslumbre dos primeiros dias, uma rotina começa a se estabelecer. As aulas iniciaram - esse, afinal, é o principal motivo de estarmos na NYU Abu Dhabi. Neste semestre, estou ministrando duas disciplinas de fotografia. Além de todos os recursos e equipamentos digitais, há câmeras de filme - Nikon FM2 , velhas conhecidas minhas! - e um laboratório preto e branco. As aulas foram planejadas para utilizar esses meios, tanto de forma mais tradicional, como também para abordar a fotografia como invenção e experimentação.

Meus estudantes (ao todo, 21) são em grande maioria mulheres e cidadãs dos Emirados Árabes Unidos. Há ainda jovens do Cazaquistão, China, Rússia, Síria e Canada. Elas e eles espelham a grande diversidade cultural do corpo discente da Universidade, que se orgulha de que aqui são falados 115 idiomas e que 120 países estão representados nesta comunidade. A NYU é muito competitiva, somente 4% dos candidatos são aprovados para estudar aqui. É um grande e prazeroso desafio trabalhar com um grupo tão seleto de alunas e alunos.

Um dos muitos atrativos da cidade é a Sheikh Zayed Grand Mosque, uma das maiores mesquitas do mundo. Katia e eu fomos para lá no final da tarde. O acesso é subterrâneo, passando por um pequeno shopping, com lojas e até um McDonald’s! Katia precisou comprar uma abaya para cobrir o corpo da cabeça aos pés. Depois de passar por um extenso túnel e subir por uma escada rolante, chega-se ao impressionante complexo. No site oficial, lê-se que “o edifício possui 1.096 colunas de ametista e jaspe, 82 cúpulas de mármore branco, piscinas refletoras, lustres Swarovski dourados, um icônico salão de oração e um pátio com uma das maiores obras de arte em mosaico de mármore do mundo”. E ainda, que “a Mesquita detém um recorde mundial do Guinness para o maior tapete tecido a mão e também ostenta um dos maiores candelabros”. Superlativos à parte, o lugar é muito impressionante, nos instiga à contemplação e, no entardecer, transmitiu uma imensa paz.

A rotina de compras necessárias para nosso início aqui tem sido em shoppings. Releituras contemporâneas dos tradicionais bazares árabes, alguns são de alto luxo e ostentam famosas marcas mundiais. Ali, no geladíssimo ar-condicionado, abastecemos a despensa no supermercado, a adega em loja quase que escondida num canto do edifício e renovamos nosso guarda-roupa. Um contraponto interessante a esses palácios do consumo foi a ida a um shopping mais popular, Mushrif Mall, onde há também um mercado de frutas, verduras, carnes e peixes. E, como no bazar, a barganha de preços é esperada e obrigatória! 

Enquanto a poeira se assenta, seja literalmente, como a que flagrei na janela de nosso apartamento, ou figurativamente, vamos nos acostumando à nossa vida aqui, com tantas novidades e muito ainda a descobrir.


I arrived here four weeks ago. After the euphoria and dazzle of the first few days, a routine is beginning to take hold. Classes have started - that, after all, is the main reason we are at NYU Abu Dhabi. This semester I am teaching two photography courses. Besides all the digital resources and equipment, there are film cameras - Nikon FM2, old acquaintances of mine! - and a black and white laboratory. The classes were planned to use those resources, both in a more traditional way, and also to approach photography as invention and experimentation. 

My students (21 in all) are mostly women and citizens of the United Arab Emirates. There are also young people from Kazakhstan, China, Russia, Syria, and Canada. They reflect the great cultural diversity of the University’s community where 115 languages are spoken and 120 countries are represented. NYU is very competitive: only 4% of all applicants are accepted. It is a great challenge and a pleasure to work with such a select group of students.

One of the many attractions of the city is the Sheikh Zayed Grand Mosque, one of the largest mosques in the world. Katia and I went there in the late afternoon. The access is underground, passing through a small shopping mall, with stores and even a McDonald’s! Katia had to buy an abaya to cover her body from head to toe. After going through an extensive tunnel and up an escalator, we arrived at the impressive complex. On its official website we read that “the edifice boasts 1,096 amethyst-and-jasper-embedded columns, 82 white marble domes, reflective pools, gold-plated Swarovski chandeliers, an iconic prayer hall, and a courtyard featuring one of the largest marble mosaic art works in the world”.  And further, that “The Sheikh Zayed Grand Mosque holds a Guinness World Record for the largest hand-woven carpet and also boasts one of the largest chandeliers in a mosque”.  Superlatives aside, the place is very impressive, it urges us to contemplation and, at sunset, it transmitted an immense sense of peace. 

The shopping routine necessary for our start here has been in malls. Contemporary reinterpretations of the traditional Arab bazaars, some are high luxury with world famous brands. There, in the freezing air-conditioning, we buy food at the supermarket, some wine at a store almost hidden in a corner of the building, and renew our closet. An interesting counterpoint to these palaces of consumption was a trip to a more popular shopping mall, Mushrif Mall, where there is also a market for fruit, vegetables, meat and fish. And, as in the bazaar, bargaining is expected and mandatory! 

While the dust settles, either literally, like that which I captured on our apartment’s window sill, or figuratively, we get begin to get used to our life here, with so many new and exciting things to discover.



Using Format